Não obstante o facto de hoje sermos amigos e parceiros de Espanha, no quadro ibérico e no âmbito da União Europeia, isso não é motivo para deixarmos de assinalar o 1º de Dezembro – nós, que até já fomos a Olivença e nem por isso nos sentimos no estrangeiro. Mas, qual o melhor sítio para o fazer?
Ocorreu-nos o Terreiro do Paço, em Lisboa, onde um grupo de fidalgos da alta nobreza atirou cobardemente um indivíduo pela janela e pregou um susto de morte a uma pobre senhora. Tudo bem mais simples que em Aljubarrota!
Não. Na verdade, o 1º de Dezembro fez-se, não apenas em 1640, mas durante os 28 anos seguintes – uma longa e desgastante guerra que sacrificou os povos, até os espanhóis se cansarem. E fez-se por todo o país, mas em especial na raia alentejana. Por coincidência, uma das minhas voltinhas pelo Alto Alentejo fez-se em torno de muitos destes locais.
Era justo darmos um saltinho a Castelo de Vide, pois decorre por lá, este fim-de-semana, um encontro internacional dedicado ao judaísmo e à antiga comunidade de judeus portugueses. Quando lá fui fiquei impressionado com o estado de conservação da sinagoga.
Quem não tiver vertigens e gostar de horizontes largos, não pode deixar de subir ao castelo – e depois subir todas as escadas e dar uns pulinhos por cima do telhado! A serra de S. Mamede revela-se aos teimosos.
Antes de sair, perguntei no posto de turismo se Marvão ficava muito longe. A técnica revelou pouca simpatia pela minha pergunta e balbuciou algo do género “é sempre em frente, não tem nada que enganar”. Sintoma de alguma rivalidade entre as duas vilas irmãs da serra?
O 1º de Dezembro fez-se também em Marvão, que ainda guarda os seus canhões alinhados nas muralhas e apontados ao outro lado. A vista é de cortar a respiração logo cá em baixo, na Portagem, quando olhamos para cima e pensamos como é possível habitar-se lá. Subimos pacientemente até aos 800 metros de altitude e damos com as grossas muralhas, a meter respeito.
Cheguei ao final da manhã e, depois de percorrer as ruas, tive a sorte de chegar à Câmara quando decorria um evento de apresentação ou inauguração de uma coisa qualquer. Mas já estavam na parte dos comes e bebes. E eu que já vinha com um ratito! Estarei sempre grato à Câmara Municipal de Marvão pelo delicioso petisco e pela hospitalidade!
O 1º de Dezembro fez-se também em Elvas, claro, cidade militar por excelência e onde as pessoas acedem simpaticamente a dedilhar uns acordes da guitarra a pedido dos turistas.
Mas quem for a Elvas por estes dias, é aproveitar a pista de gelo.
O 1º de Dezembro fez-se, claro, nos campos do Ameixial, que albergam hoje as freguesias de S. Bento do Ameixial e Santa Vitória do Ameixial, testemunha no nome dessa carnificina que correu bem para o nosso lado. O pessoal de S. Bento e da sua associação é muito simpático e acolhedor – ou não fosse o presidente chamar-se Marco Festas! Recomendaram-me até que desse um saltinho à Venda da Porca para visitar uma tasca que há por lá, mas o tempo não dá para tudo… ou fui eu que não me deixei invadir pelo espírito do Alentejo!
O 1º de Dezembro fez-se ainda em Montes Claros, próximo de Borba, na que foi a última batalha da Restauração e finda a qual os espanhóis se cansaram. A agora cidade de Borba presentou-me, a meio da tarde, com um curto lanche antes do regresso, sem deixar de passar pela Adega Cooperativa onde trouxe alguns exemplares do seu célebre vinho como recordação. Se por ventura me tivesse esquecido disso, as longas vinhas à entrada de Borba recordar-mo-iam.
Já não posso dizer que o 1º de Dezembro se tenha feito em Avis, mas quem sabe quantos dos que morreram naquelas batalhas terão vindo daqui? Este fim-de-semana o mel debate-se na vila que deu nome a uma dinastia e esta foi a minha última paragem. Só mesmo para beber uma mini e apreciar o panorama da vasta planície em volta.
(Ainda passei por Galveias. Pensei no José Luís Peixoto, que nasceu aqui, e apeteceu-me perguntar por ele às pessoas da vila, que certamente terão uma ponta de orgulho num filho da terra que faz sucesso lá na capital sem esquecer as suas origens, pelo contrário! Mas depois lembrei-me que ainda não li nenhuma obra dele. Dizem que “O Livro”, o último que ele lançou, é interessante. Vou ver se o leio antes de voltar a Galveias.)