Archive for the ‘Literatura’ Category

>Livro "Viagem a Akhshanba" (Silves)

>Ora cá está um exemplo do que falámos há pouco. Existe uma memória, uma cultura, uma tradição, que pode perfeitamente ser renascida.

“Vai ser apresentado esta quarta-feira, às 18h00, na biblioteca municipal de Silves, a nova obra de Victor Borges, “Viagem a Akhshanba”.

Trata-se de um romance histórico que decorre no Al Gharb islâmico, em pleno século XI, em torno do qual o autor algarvio constrói a ficção, tendo por base uma hipotética viagem de saudade da poetisa Maryam Bint Abi Ya`Qûb al-Faysuli al‑Ânsarî, de Sevilha (onde viveu), passando pelas suas origens ocidentais: Mértola, Faro, Loulé, Albufeira e Silves (onde nasceu).

De referir que a obra deste autor algarvio – que vive em Benafim e cujo percurso de vida se prende bastante à cidade de Silves -, tem um prefácio do poeta e ensaísta Adalberto Alves (distinguido pela UNESCO com o prémio Sharjah, em 2008), e é editada pela Orfeu – Livraria Portuguesa e pela Galega (Bruxelas).” (daqui)

Conseguiremos traduzir este livro para árabe?

>Porto acolhe congresso do vinho e da vinha

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Decorre entre os próximos dias 20 e 27 de Junho, no Centro de Congressos e Exposições da Alfândega do Porto, o XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho e a 9.ª Assembleia-Geral da OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho.

O Congresso tem como temática central “A Construção do Vinho – Uma Conspiração de Saber e de Arte”, incluindo sub-temas como “a construção de um vinho, as construções para o vinho, a construção das cidades do vinho e a construção dos mercados do vinho”.

A iniciativa pretende constituir um pólo de encontro de especialistas mundiais e posicionar o Porto como ponto de convergência do conhecimento ligado aos vinhos com o know-how relativo ao seu negócio.

O evento está a ser organizado em Portugal sob a égide da “Um Porto Para o Mundo – Associação para o Congresso OIV 2011”, uma entidade privada sem fins lucrativos, criada especialmente para esta iniciativa, no sentido de facilitar a organização do congresso e reunir um conjunto de instituições de renome em Portugal e no estrangeiro.

Para Yves Bérnard, Presidente da OIV, “a fama mundial do Porto e dos seus vinhos, a hospitalidades dos portugueses e a originalidade da temática que nos é proposta acabarão por convencer um vastíssimo número de participantes a contribuir para a “construção” de um novo ponto de encontro incontornável para o mundo da vinha e do vinho”.

A OIV é uma Organização Intergovernamental Internacional de âmbito científico e técnico, com competência no domínio da vinha, dos vinhos e de outros produtos vitivinícolas. A OIV congrega actualmente cerca de meia centena de Estados Membros e Observadores, sendo sucessora do “Office International de la Vigne et du Vin”.

Gamado aqui

O Minho invisível

Imagem do município de Caminha

(…) A Serra de Arga, erguendo-se sobre Caminha e Âncora, é um dos lugares mais perfeitos das minhas peregrinações minhotas, e a pequena sebe de azevinhos que hoje decora a casa de Moledo veio de uma das colinas mais altas do lugar. Se há perfeição absoluta é esta, a dos cumes do meu Minho, aproximando-se das velas do céu. (…) Eu limitei-me a perguntar como poderia descrever, se algum dia encetasse a tarefa de escrever um “guia do Minho”, aquela perfeição silenciosa, brutal e escondida das estradas nacionais. Grande parte do meu Minho, entendi então, é invisível. Ou então é inadequado ao alfabeto. (…)

Fonte: António Sousa Homem

Ameixial

Não obstante o facto de hoje sermos amigos e parceiros de Espanha, no quadro ibérico e no âmbito da União Europeia, isso não é motivo para deixarmos de assinalar o 1º de Dezembro – nós, que até já fomos a Olivença e nem por isso nos sentimos no estrangeiro. Mas, qual o melhor sítio para o fazer?

Ocorreu-nos o Terreiro do Paço, em Lisboa, onde um grupo de fidalgos da alta nobreza atirou cobardemente um indivíduo pela janela  e pregou um susto de morte a uma pobre senhora. Tudo bem mais simples que em Aljubarrota!

Não. Na verdade, o 1º de Dezembro fez-se, não apenas em 1640, mas durante os 28 anos seguintes – uma longa e desgastante guerra que sacrificou os povos, até os espanhóis se cansarem. E fez-se por todo o país, mas em especial na raia alentejana. Por coincidência, uma das minhas voltinhas pelo Alto Alentejo fez-se em torno de muitos destes locais.

Era justo darmos um saltinho a Castelo de Vide, pois decorre por lá, este fim-de-semana, um encontro internacional dedicado ao judaísmo e à antiga comunidade de judeus portugueses. Quando lá fui fiquei impressionado com o estado de conservação da sinagoga.
Quem não tiver vertigens e gostar de horizontes largos, não pode deixar de subir ao castelo – e depois subir todas as escadas e dar uns pulinhos por cima do telhado! A serra de S. Mamede revela-se aos teimosos.
Antes de sair, perguntei no posto de turismo se Marvão ficava muito longe. A técnica revelou pouca simpatia pela minha pergunta e balbuciou algo do género “é sempre em frente, não tem nada que enganar”. Sintoma de alguma rivalidade entre as duas vilas irmãs da serra?

O 1º de Dezembro fez-se também em Marvão, que ainda guarda os seus canhões alinhados nas muralhas e apontados ao outro lado. A vista é de cortar a respiração logo cá em baixo, na Portagem, quando olhamos para cima e pensamos como é possível habitar-se lá. Subimos pacientemente até aos 800 metros de altitude e damos com as grossas muralhas, a meter respeito.
Cheguei ao final da manhã e, depois de percorrer as ruas, tive a sorte de chegar à Câmara quando decorria um evento de apresentação ou inauguração de uma coisa qualquer. Mas já estavam na parte dos comes e bebes. E eu que já vinha com um ratito! Estarei sempre grato à Câmara Municipal de Marvão pelo delicioso petisco e pela hospitalidade!

O 1º de Dezembro fez-se também em Elvas, claro, cidade militar por excelência e onde as pessoas acedem simpaticamente a dedilhar uns acordes da guitarra a pedido dos turistas.
Mas quem for a Elvas por estes dias, é aproveitar a pista de gelo.

O 1º de Dezembro fez-se, claro, nos campos do Ameixial, que albergam hoje as freguesias de S. Bento do Ameixial e Santa Vitória do Ameixial, testemunha no nome dessa carnificina que correu bem para o nosso lado. O pessoal de S. Bento e da sua associação é muito simpático e acolhedor – ou não fosse o presidente chamar-se Marco Festas! Recomendaram-me até que desse um saltinho à Venda da Porca para visitar uma tasca que há por lá, mas o tempo não dá para tudo… ou fui eu que não me deixei invadir pelo espírito do Alentejo!

O 1º de Dezembro fez-se ainda em Montes Claros, próximo de Borba, na que foi a última batalha da Restauração e finda a qual os espanhóis se cansaram. A agora cidade de Borba presentou-me, a meio da tarde, com um curto lanche antes do regresso, sem deixar de passar pela Adega Cooperativa onde trouxe alguns exemplares do seu célebre vinho como recordação. Se por ventura me tivesse esquecido disso, as longas vinhas à entrada de Borba recordar-mo-iam.

Já não posso dizer que o 1º de Dezembro se tenha feito em Avis, mas quem sabe quantos dos que morreram naquelas batalhas terão vindo daqui? Este fim-de-semana o mel debate-se na vila que deu nome a uma dinastia e esta foi a minha última paragem. Só mesmo para beber uma mini e apreciar o panorama da vasta planície em volta.

(Ainda passei por Galveias. Pensei no José Luís Peixoto, que nasceu aqui, e apeteceu-me perguntar por ele às pessoas da vila, que certamente terão uma ponta de orgulho num filho da terra que faz sucesso lá na capital sem esquecer as suas origens, pelo contrário! Mas depois lembrei-me que ainda não li nenhuma obra dele. Dizem que “O Livro”, o último que ele lançou, é interessante. Vou ver se o leio antes de voltar a Galveias.)

Transmontanices – Virgílio Nogueiro Gomes

(…) Uma breve interpretação musical com gaita-de-foles por Diogo Leal que tocou peças do Nordeste Transmontano. Depois seguiu-se uma “espécie” de lanche com produtos transmontanos: Bola de carne (…) Bolos de amêndoa e Amêndoas cobertasb (…) Castanhas assadas (…)  vinho Branco THYRO (…)  vinho tinto Vinha de MAZOUCO, e Água Pedras Salgadas (…)

É assim que Virgílio Nogueiro Gomes descreve, na sua página, o lançamento do livro “Transmontanices” (no passado dia 28 de Outubro), sobre as coisas boas que há para degustar na província onde nasceu e de onde veio há 40 anos atrás, para viver em Lisboa.

Uma excelente iniciativa de divulgação do melhor que há em Trás-os-Montes.

Estrela

Serra da Estrela (daqui)

Alta, imensa, enigmática, a sua presença física é logo uma obsessão. Mas junta-se à perturbante realidade uma certeza ainda mais viva: a de todas as verdades locais emanarem dela. Há rios na Beira? Descem da Estrela. Há queijo na Beira ? Faz-se na Estrela. Há roupa na Beira? Tece-se na Estrela. Há vento na Beira? Sopra-o a Estrela. (…) Tudo se cria nela, tudo mergulha as raízes no seu largo e materno seio. Ela comanda, bafeja, castiga e redime. Gelada e carrancuda, cresta o que nasce sem a sua bênção; quente e desanuviada, a vida à sua volta abrolha e floresce. O Marão separa dois mundos — o minhoto e o transmontano. O Caldeirão, no pólo oposto de Portugal, imita-o como pode. Mas a Estrela não divide: concentra.

(…)

A Estrela, essa, guarda secretamente os ímpetos, reflectindo-se ensimesmada e discreta no espelho das suas lagoas. Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo. As suas Penhas Douradas, refulgentes já no nome, os seus Cântaros rebeldes a qualquer aplanação, os seus vales por onde deslizaram colossos de gelo, nos brancos tempos do quaternário. Revela, sobretudo, recantos quase secretos de mulher. Fontes duma pureza original, cascatas em que a água é um arco-íris desfeito, e conchas de granito onde se pode beber a imagem. (…)

Perder-se por ela a cabo num dia de neve ou de sol, quando as fragas são fofas ou há flores entre o cervum, é das coisas inolvidáveis que podem acontecer a alguém. Para lá da certeza dum refúgio amplo e seguro, onde não chega a poeira da pequenez nem o ar corrompido da podridão, o peregrino esbarra a cada momento com a figuração do homem que desejaria ser, simples, livre e feliz. Um homem de pau e manta, a guardar um rebanho,(…)”

Miguel Torga, “PORTUGAL” 3º Edição – Coimbra, 1967

Nota: Já passaram alguns anos desde que Miguel Torga escreveu estas linhas. Em algumas coisas boas, a Beira evoluiu e deixou de estar tão dependente da Serra da Estrela (ou Serra d’ Estrela, como diz o José Hermano Saraiva), nomeadamente no queijo – também a Beira Baixa produz agora queijos de excelente qualidade.

A saudade – em Eça de Queirós (2)

Imagem da estação de comboios
de Sendim (Miranda do Douro),
 gamada 
aqui.

(…) “A fardeta desapareceu, sem rumor, como sombra benéfica. E eu readormeci com o pensamento em Guiães, onde a tia Vicência, atarefada, de lenço branco cruzado no peito, decerto já preparava o leitão.


Acordei envolto num largo e doce silêncio. Era uma Estação muito sossegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes – e outras rosas em moutas, num jardim, onde um tanquezinho abafado de limos dormia sob mimosas em flor que recendiam. Um moço pálido, de paletó cor de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio. Agachada rente à grade da horta, uma velha, diante da sua cesta de ovos, contava moedas de cobre no regaço. Sobre o telhado secavam abóboras. Por cima rebrilhava o profundo, rico e macio azul de que meus olhos andavam aguados.


Sacudi violentamente Jacinto:


-Acorda, homem, que estás na tua terra!


Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.


-Então é Portugal, hem?… Cheira bem.


-Está claro que cheira bem, animal!” (…)




Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (1900)





A saudade – em Eça de Queirós

Sentei-me na muralha, e os meus olhos perderam-se pela planície arenosa que se estira para além das portas até aos contrafortes dos montes mongólicos; (…) Então invadiu-me a alma uma melancolia, que o silêncio daquelas alturas, envolvendo Pequim tornava de um vago mais desolado; era com uma saudade de mim mesmo, um longo pesar de me sentir ali isolado, absorvido naquele mundo duro e bárbaro: lembrei-me, com os olhos humedecidos, da minha aldeia do Minho, do seu adro assombreado de carvalheiras, a venda com um ramo de louro à porta, o alpendre do ferrador, e os ribeiros tão frescos quando verdejam os linhos…


Eça de Queirós, O Mandarim (1880)